Sobre J. Batista disse o professor Cineas Santos (2016):
“J.Batista (João Bezerra da Cruz) é um cidadão do mundo: seus trabalhos estão expostos na Alemanha, na Itália,na Suíça, na Espanha. (na verdade os trabalhos já foram expostos em cerca de 53 países mundo afora). Agora,por exemplo, está na capa de uma publicação alemã. Sua arte tem raízes profundas fincadas no chão do Piauí. Um artista que honra e dignifica a cultura piauiense”.
O texto de Cineas foi escrito quando da vida dele a Pedro II, convidado para a abertura do SALIP2 (Salão do Livro de Pedro II), em 2016, no qual, diga-se de passagem, fui o escritor homenageado.
Após a palestra, Cineas perguntou-me se seria possível entrevistar o afamado pintor pedro-segundense (que é meu colega de infância), para uma entrevista a um programa que ele, Cineas Santos, tinha numa TV de Teresina. Marcada a entrevista fomos ao homem.
J. Batista é um tanto recluso e não gosta muito de badalação, mas quando o professor Cineas lhe pede uma entrevista ele sempre atende e se torna um loquaz pedro-segundense de altos papos.
UM POUCO SOBRE A ARTE DE J BATISTA:
A pintura desse artista, quando à temática se reporta em sua maioria ao nordeste brasileiro, ao Piauí (e neste, ao município de Pedro II). Retrata a história do povo pobre, dos homens, mulheres, crianças e mesmo dos animais (o boi, o jumento, a cabra, o passarinho) habitando um espaço preenchido por cactos, estradas de terra, caatinga, casinhas ao léu, morros recônditos, riachos sonolentos, céus azulados de nuvens escassas e fugidias. Só depois de mirar bem esses detalhes que se sobressaem de imediato num primeiro olhar, é que o(a) observador(a) mais atento(a), em mergulhando na alma das pessoas ali retratadas, poderá captar os dramas, os sonhos, a labuta no trabalho, a fé, a sede por justiça, como também a esperança dessa gente. Essa gente somos nós mesmos.
GRANDE REVELAÇÃO
Aliás, vou fazer aqui uma revelação rara. Eu e Batista somos da mesma geração. Devíamos ter uns 11 anos de idade, eu estava lendo um gibi do Tarzan na Praça da Bonelle, na cidade de Pedro II, quando J. Batista aproximou-se de mim e disse:
- Quer trocar essa revistinha por um caminhão de madeira (de brinquedo)?
Eu olhei para ele sem acreditar no que dizia. E apenas consegui balançar a cabeça afirmativamente.
Dali a uma meia hora lá vinha o Batista puxando por um cordão um caminhão de madeira e fizemos a troca. Caminhãozinho de brinquedo para cá, revistinha de Tarzan para lá.
Quando cheguei em casa e contei à minha mãe sobre a troca que havia feito, ela levou algum tempo para acreditar.
Bom, desde esse época Batista e eu somos amigos. E só muito tempo depois foi que entendi o motivo de ele ter querido trocar seu caminhão artesanal de brinquedo por minha revista de Tarzan: era para reproduzir os desenhos, treinar a prática de desenhar. Naquele menino já havia a chama do artista plástico afamado no qual se tornaria depois.
Bom, hora de concluir esse texto e deixar meus leitores e leitoras apreciarem algumas maravilhas de pinturas de J Batista.
(Fotos: do acervo do artista)
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Reside em Pedro II, PI. Formado em Letras pela UFPI, na qual também fez um mestrado. Pertence às academias ALVAL e APLA (da qual é o atual presidente). É membro fundador do Coletivo P2, faz parte do Coletivo de Literatura de São Benedito, CE, e do Coletivo Amigos da Literatura, PI, da UBE-PI e do IHGPI. É autor de vários livros, dentre eles “Lendas da Cidade de Pedro II” (Livraria Entrelivros, Teresina e Livraria Cruviana (Pedro II). Escreve aos sábados para o Portal P2.
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