O escritor baiano Jorge Amado teria dito que os lugares são construídos pelas pessoas do povo. Só depois, continua Jorge Amado, é que os poderosos mostram os dentes, rugem e se apropriam deles. A partir daí vão pondo o nome dos familiares em tudo o que é de logradouro público, praças, chafarizes, hospitais, ruas, cemitérios e Deus sabe mais o resto.
Não seria diferente com o município piauiense de Pedro II. Criado oficialmente em 1853, o município que já se chamou Pequizeiro, Matões e Itamaraty. Localizado ao centro de um quadrilátero formado por quatro olhos d’água, um em cada canto, a cidade sede do município surgiu do ponto de vista geográfico no entrono de uma capelinha dedicada a Nossa Senhora da Conceição, padroeira da freguesia de Matões.
Parece justo que de início se diga que as práticas coronelistas que caracterizaram desde o início a dinâmica do município, de fato, determinaram a vida política, alijando economicamente e socialmente parte considerável, da população.
Dentre os grupos sociais marginalmente incluídos destacam-se os praticantes de religiões de matrizes africanas, em especial a Umbanda (mas também o Candomblé).
Narrar a saga de umbandistas (e de praticantes de Candomblé), procurando compreender seu papel sociorreligioso e, num sentido mais amplo, cultural, na sociedade pedrossegundense ao longo das últimas cinco, seis décadas é o objetivo central deste livro.
Além disso, é oportuno apresentar as dificuldades de toda ordem (econômica, social, cultural, racial) que os primeiros umbandistas tiveram que enfrentar numa Pedro II elitista, preconceituosa e religiosamente (mas não só) opressiva.
Finalmente procura-se mostrar alguns dos desafios enfrentados por estas pessoas que adotaram como religião a Umbanda e o Candomblé, embora lidem com toda naturalidade com o cristianismo segundo o que se costuma denominar de sincretismo religioso.
Institucionalmente, as religiões de matriz africana no município piauiense de Pedro II, têm todas as garantias da Lei. Porém a obrigatoriedade do ensino das culturas afrodescendentes e indígenas nas redes públicas de educação deixam muito a desejar apesar da vigência da Leis 10.639/03 e 11.645/2 “que tornam obrigatório o ensino da História e cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar com ênfase nas disciplinas de História, Arte e Literatura, objetivando a educação para as relações étnico-raciais”.
Os primeiros evangélicos do município de Pedro II são ali da década de 1940, embora só tenham conseguido erguer a Primeira Igreja Batista de Pedro II nos anos 1970, através do Sr. Vianinha.
Porém, a história desse grupo antes disso foi pontuada por eventos preconceituosos de boa parte da comunidade católica local. E isso tudo estimulada pela cúpula diocesana, diga-se de passagem, que, por sua vez recebia as ordens do Vaticano. Isso, para quem estuda minimamente a questão religiosa no Brasil não é novidade. Mais adiante voltaremos a esse ponto. Isso se faz absolutamente necessário porque sem entendermos o que representaram o Concílio Vaticano II (1959) e, anteriormente, a Reforma Protestante. [continua].
Foto A-Sr. Raimundo Ana (falecido)
Foto B-Sr. Francisco Nascimento (falecido)
Foto C-Sra. Sebastiana Nascimento (falecida)
Foto D-Desenho do CEUPA por Ernâni Getirana
Foto E- Inauguração do CEUPA, 10/9/1972 (foto: Sr. Barata)
Foto F-Sra Ana Nascimento (falecida)
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