Segunda, 18 de Novembro de 2024
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Cultura Coluna do Ernâni

Antes de Qualquer Outra História

ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. É autor de inúmeros livros, dentre eles “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. É membro da APLA, ALVAL, UBE-PI e do IHGPI.

16/11/2024 às 09h40 Atualizada em 16/11/2024 às 09h44
Por: Gustavo Mesquita
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Antes de Qualquer Outra História

 

Antigamente as pessoas que passavam por aquela rua mal tinham coragem de derramar o olhar para os lados. Não apenas o olhar não derramavam, mas, pior, às vezes tampavam o nariz e franziam a testa. Algumas até torciam o nariz e saíam rogando praga no desgraçado que havia jogado lixo ali.

Sei de pessoas que já não mais passavam por aquela rua. Vindo ou indo para o centro da cidade, evitavam passar pela dita cuja. Rodeavam lá por longe, aumentando a caminhada. Mas era bem melhor do que expor os olhos, o nariz, o corpo todo ao lixo que se depositava ali.

E era desse jeito que as coisas aconteciam naquele trecho daquela ruazinha (e essa ruazinha não era a única carregada de Lixo). Quebrou-se um chinelo, um sapato soltou a sola, joga ali, joga no mato, joga fora!

O saco plástico descartável e cheio de bugigangas, joga ali, joga fora, joga no mato. O pneu da moto, do carro está estragado? Joga lá, joga logo, joga fora, joga no mato! A geladeira, o fogão, o vaso sanitário, tudo isso está velho, amarelado, dando problema? Esqueça seus problemas, jogue ali, jogue fora, jogue no mato. Joga, joga, joga!!! Compra outro!!!

O pior é que, com o passar do tempo, mesmo as pessoas que residiam longe da rua vinham jogar ali seu lixo. E tome sapato velho, e tome madeira velha, e tome cacareco e tome lixo. E quando chovia, então. E a coisa só piorava. Até as pessoas que residiam ainda mais longe daquelas que já residiam longe da rua, começaram a vir também jogar lixo naquele trecho.

Mas vamos dar um salto no tempo, bem para trás. Para bem antes de quando o lixo começou a ser um problema na vizinhança.

 

DO COMEÇO

A região onde hoje fica o Jardim de Alice, lá pelos anos de 1850 até 1970, aquilo era chapada pura. Brenha do mato mesmo. Não havia nem vereda. A criação do município de Pedro II, legalmente em 1853, não alterou uma tica de nadica aquela região que nem nome tinha.

Contudo, há umas histórias antigas nascidas ali. Era uma região onde moravam índios, dizem. Eles acampavam por aquelas imediações para descansar, revigorar as forças, caçando, comendo frutas, pescando nos riachos que entremeavam aquilo ali tudo.

Aquilo era cheio de riachinhos, cacimbinhas, olhinhos d’água, pocinhos mimosos no meio das pedras. Quando os índios vinham vindo desde o litoral passando para as bandas do Ceará, era ali, na região onde hoje está o Jardim de Alice, que eles descansavam.

Claro que havia outras paragens como esta. Por exemplo, a região dos olhos d’água Pirapora, Buritizinho e Bananeira eram também lugares onde os índios paravam para descansar em suas jornadas nômades. Fazem, portanto, todo o sentido estas historietas antigas, passadas de boca a ouvido ao longo de dezenas, vintenas de anos, até chegarem a nós.

A região onde hoje fica o Jardim de Alice, e, por extensão, todo o bairro Caixa d’Água, fica às margens do rio Corrente e que nos anos 1930 ‘ganhou’ a barragem do seu Lauro Cordeiro. O Sr. Lauro era um médico e político pertencente a uma tradicional família local e que chegou a ser prefeito de Pedro II, após se desentender com seus primos.

Durante décadas a barragem que ele mandou construir foi um ponto de visita pública. Muita gente aprendeu a nadar ali durante a estação das chuvas (de Novembro a Abril), quando então transbordava. A expressão “lavou a parede” era o mote que se ouvia para significar que a barragem não só estava cheia, mas que o volume de água excedente continuaria sangrando, irrigando os poços ‘Comprido’, ‘Do Meio”, “Da Ingá”, e assim por diante até cair no ‘Talhado do Pirapora” e, dali, chegava nas ‘Barras(*)’. As águas iriam parar no mar, como se dizia.

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(*) As ‘Barras’ eram uma área de terra pertencente a uns oito proprietários onde hoje localiza-se o ‘Açude Joana’. Cada proprietário possuía sua pequena ‘Capitania Hereditária’ onde havia centenas de árvores frutíferas, moagem, farinhada e muitos olhos d’água nos quais se faziam pequenas barragens.

 

ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. É acadêmico das academias ALVAL e APLA. É também membro do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí (IHGPI). Membro fundador do ColetivoP2. Autor de vários livros, dentre eles “Lendas da Cidade de Pedro II”. Escreve para o Portal p2 aos sábados.

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Cultura com Profº Ernâni Getirana
Cultura com Profº Ernâni Getirana
Sobre Ernâni Getirana, professor, lecionou na UESPI e Faculdade Santo Agostinho, aposentado na Rede Estadual de Educação, Ecoescola Thomas a Kemps. Ainda na ativa na Rede Municipal de Educação de Pedro II. Formado em Letras pela UFPI, graduado em Meio Ambiente pela UnB, graduado em Educação pela UFRJ, mestre em Políticas Públicas pela UFPI. Membro das academias: Vale do Longá e Pedrossegundense de Letras e Artes. É poeta e escritor, autor de vários livros, dentre eles “Lendas da Cidade de Pedro II”.
Atualizado às 21h00 - Fonte: ClimaTempo
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