O poeta e filósofo Antonio Cícero nascido em 6 de outubro de 1945 partiu na última quarta-feira, 23 de outubro de 2024, aos 79 anos de idade. Sofria, segundo escreveu em sua carta de despedida, do mal de Alzheimer, diagnosticado em junho de 2023.
Na carta endereçada a amigos disse que sua vida havia se tornado insuportável, estava esquecendo das coisas de modo acelerado. Não conseguia nem ler mais.
Filho dos piauienses Ewaldo Correia Lima e de Amélia Correia Lima, Cícero quando adolescente morou com a família nos Estados Unidos, por conta da profissão do pai, diretor do BID (Branco Interamericano de Desenvolvimento).
Nos anos 1980 com o advento do movimento musical ‘Rock Brasil’, que lançou Paralamas do Sucesso, Metrô, Capital Inicial, dentre tantos outras bandas, o poeta tornou-se conhecido como letrista das músicas de sua irmã, Marina Lima, (também lançada na década de 80).
Formado em filosofia, Antonio Cícero Correia Lima ocupou a cadeira de número 27, da ABL – Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Eduardo Portela. Foi professor universitário e por isso escreveu muitos ensaios e artigos.
Escreveu, dentre outros, os livros: A Cidade e os Livros, Porventura, Antonio Cícero, A Poesia e a Crítica: Ensaios, Mutações.
Para concluir, deixo meus leitores e leitoras com o poema mais conhecido de Antonio Cícero: Guardar.
Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
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ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Pertence às academias APLA e ALVAL, e ao IHGPI (Instituto Histórico e Geográfico do Piauí). É membro fundador do Coletivo P2. É autor, dentre outros livros, de “Lendas da Cidade de Pedro II”. Escreve para este portal aos sábados.
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