Cultura Coluna do Ernâni
O presente de Pedro Sabiá ao amigo Damião
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. É autor de inúmeros livros, dentre eles “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. É membro da APLA, ALVAL, UBE-PI e do IHGPI.
27/07/2024 08h25 Atualizada há 2 meses
Por: Ernani

 

Ernâni Getirana

Se havia uma coisa de que Pedro Sabiá gostasse tanto quanto de cachaça essa coisa era o futebol. Daí que ia sempre ao estádio. Estádio era o nome suntuoso para algo que na verdade não passava de um ‘campo de futebol de poeira’, ou ‘campo de várzea’, como esse tipo de recinto é mais conhecido país afora.

O campo de futebol ficava bem do lado da ‘caixa d’água’ do DNOCS. Naquele domingo do mês de agosto de 1955 Pedro Sabiá estava especialmente empolgado com seu time, Pirapora Esporte Clube, pois seu compadre Damião retornava aos gramados (areal na verdade) após uma contusão que o afastara por quatro meses das pelotas.

Damião era o capitão do time e tinha moral com os juízes. Era um camarada respeitado pelos adversários por seu estilo de jogo limpo e elegante. Não se sabia de uma falta cometida pelo capitão do Pirapora Esporte Clube, mas suas belas jogadas eram comentadas de cabo a rabo por toda a Pedro II.

O desenhista Antônio de Pádua havia feito um desenho no qual Damião cabeceava uma bola lançada por um dos companheiros. Uma maravilha de desenho que conseguia captar o momento exato em que o balão, após tocar a cachola do jogador, era convertido para dentro do gol de um goleiro angustiado. Damião recebeu o quadro devidamente emoldurado no círculo central, abraçou efusivamente o desenhista e, depois, levantou o troféu com ambas as mãos. A galera foi ao delírio.

No famoso desenho de Antônio de Pádua via-se um Damião fazendo o gol magistral e, se se tivesse cuidado, dava para ver também Pedro Sabiá no canto esquerdo do gol, atrás das redes, segurando um copo de cachaça com uma das mãos e vibrando com o punho fechado com a outra. Nada mais justo, afinal de contas era ele quem havia encomendado o quadro ao desenhista.

(*) Os desenhos de Pedro Sabiá que ilustram este texto são de dois excelentes  artistas plásticos pedro-segundenses: João Batista (à esquerda) e Jackson Cristiano (à direita), a quem agradeço.

Ernâni Getirana (@ernanigetirana) é professor, escritor e poeta. É autor de ‘Debaixo da Figueira de Meu Avô”, faz parte da APLA, ALVAL e do IHGPI (Instituto Histórico e Geográfico do Piauí). É sócio fundador do Coletivo P2 de Prosa e Poesia. Escreve aos sábados no PortalP2.